quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Lenda de Pandora




Zeus criou o homem,dando-lhe forma e inteligência. A única coisa que diferenciava o homem dos deuses era que eles não possuiam o fogo e por isso Zeus o escondeu.

Mas Prometeu quebra um pequeno galho seco de uma árvore, voa rapidamente até o céu e o acende no calor o Carro do Sol.

Agora que os homens conhecem o segredo do precioso elemento, pouco os difere dos deuses. Os deuses estão em pânico. Discutem como tornar os homens novamente submissos e humildes.

Zeus inventa a forma mais rápida de destruir o paraíso dos homens: a mulher. Chama Hefestos, o habilidoso deus artesão, e pede-lhe que confeccione uma imagem feminina em bronze. Ela devia assemelhar-se ao homem, mas em alguma coisa diferir dele, de tal forma que o encantasse e comovesse, atrasando-lhe o trabalho e transtornando-lhe a alma.

E cada deus oferece alguma coisa àquela criatura, que já nasce para colocar em desconserto a vida dos mortais.

Atena entrega à mulher um lindo vestido bordado, que lhe cobre as harmoniosas formas. Depois coloca-lhe um véu sobre o rosto sereno e enfeita-lhe a delicada cabeça com uma guirlanda de flores coloridas.

Quando a virgem está inteiramente vestida, Afrodite oferece-lhe a beleza infinita e os encantos que seriam fatais aos indefesos homens. Hermes presenteia-lhe com a língua. Apolo confere-lhe suavíssima voz. Enfim a bela Pandora está pronta para cumprir sua missão. Mas antes de enviá-la em sua caminhada, Zeus entrega-lhe uma caixa coberta com uma tampa.

Nela estão contidas as misérias destinadas a assolar os mortais: reumatismo, gota, dores para enfraquecer o corpo humano. Quando Pandora chega ao mundo, encontra Epimeteu, irmão de Prometeu. Tão logo a vê, ele se encanta, e comovido recebe de suas finas mãos a precisosa caixa que ela lhe oferta.

É um presente de Zeus, declara Pandora. E nem por um instante Epimeteu suspeita de que todo o sofrimento humano dali emergiria. Ainda desorientado pelo deslumbramento que lhe causa a bela figura, esquece o juramento feito a seu irmão Prometeu de nunca aceitar um presente de Zeus. Agradecido abre a tampa da caixa fatal.

Imediatamente, saltam de dentro dela todas as desgraças do mundo. Entretanto no fundo do recipiente maldito permanesse um tesouro. Um sentimento precioso, que poderia estragar toda a vingança dos deuses e destruir-lhes definitivamente qualquer praga: a esperança. Zeus não quer que os homens esperem mais nada. A um só gesto do deus, Pandora fecha a caixa, deixando a esperança calada no fundo, escondida para sempre. E o homem perde seu paraíso.

Que a nossa esperança não fique para sempre presa na caixa de Pandora!

Um Feliz 2010 para todos vocês!!!

By Melonella.




Post Musical III



Dreams
The Corrs
Composição: Stevie Nicks

Now here you go again you say you want your freedom
Well who am I to keep you down
It's only right that you should play the way you feel it
But listen carefully to the sound

Of your loneliness
Like a heartbeat drives you mad
In the stillness of remembering what you had
And what you lost
And what you had
And what you lost

Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing
yeh, women they will come and they will go
When the rain washes you clean you'll know, you'll know

Now here I go again, I see the crystal visions
I keep my visions to myself
It's only me who wants to wrap around your dreams and
Have you any dreams you'd like to sell

Dreams of loneliness...
Like a heartbeat drives you mad
In the stillness of remembering what you had
And what you lost

Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing
yeh, women they will come and they will go
When the rain washes you clean you'll know, you'll know

Os lilases de Hossegor - Parte II

"Dizem que as amizades que começam mal são as mais infectantes. Bénédicte e Sylvain, e até Cochicho, que mal fez um ano, logo pegaram o vírus. Quase todos os dias, Bénédicte serve o lanche. Acha bem-educadas as crianças que têm apetite. Sylvain reconhece Manech, que vai terminar o primeiro grau dali a dois anos, tem o mérito de ajudar o pai na pesca, e a mãe, que é de saúde frágil, em todos os trabalhos.

(...)

O primeiro verão, o segundo. Parece a Mathilde que foi no segundo que ela se decidiu aprender a nadar. Manech fabricou bóias de cortiça para prender seus tornozelos e foi entrando no lago, com ela agarrada em seus ombros. Ela não lembra de ter sofrido. Tinha uma sensação de alegria e de gratidão para consigo mesma como raramente sentiu. Era capaz de flutuar, de avançar, deitada de barriga, só com os braços, e até mesmo, só com os braços, de virar de costas e continuar nadando.




(...)

E no oceano, o grande, o aterrorizante oceano de ondas de estrondo, explosões de neve e de pérolas, Mathilde também entra, agarrada ao pescoço de Manech, sufocando-o, estrangulando-o, gritando de pavor e de prazer a não mais poder, empurrada, afogada, machucada, mas sempre louca para voltar lá.

Na hora de subir as dunas, na volta do banho, com Mathilde às costas, Manech não aguenta, chateia-se consigo mesmo por precisar parar e colocá-la na areia para recuperar o fôlego. Foi ali, em uma parada forçada, durante o verão de 14, alguns dias antes da guerra, que Mathilde, querendo beijá-lo no rosto para confortá-lo, deixa deslizar os lábios e, com a ajuda do capeta, beija-o na boca. Toma gosto pela coisa tão depressa que se pergunta como pôde esperar tanto tempo e ele, ora essa, fica vermelho até as orelhas, mas ela sente que ele não detesta a novidade."


(continua)


Now listening: Smoke gets in your eyes, by The Platters.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009




"Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
'il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit...'"

Os lilases de Hossegor




"Junho de 1910.
Mathilde tem dez anos e meio. É sexta ou sábado, ela não se lembra mais. Manech tem treze anos desde o dia 4. Está voltando da escola, de calças curtas e casaco de marinheiro, com a pasta nas costas. Pára diante da grade que circunda o jardim de Poema. Vê Mathilde pela primeira vez, sentada em seu carrinho do outro lado.

Por que ele passa na frente da villa naquela tarde, mistério. Mora além do lago de Hossegor, não tem razão alguma para fazer esse desvio. Seja como for, está ali, olha para Mathilde através das grades e depois pergunta: 'Você não pode andar?'

Mathilde faz sinal que não. Ele não acha nada a dizer, vai embora. Um minuto depois, volta. Parece chateado. Pergunta: 'Você não tem amigos?' Mathilde faz sinal que não. Ele diz, olhando para outro lado, achando aquilo muito difícil: 'Se concordar, quero ser seu amigo.' Mathilde faz sinal que não. Ele levanta a mão acima da cabeça, exclamando: 'Ah, merda!' e vai embora.

Desta vez, ele passa pelo menos três minutos sem revê-la. Quando aparece de novo do outro lado das grades, sabe Deus o que fez da pasta, está com as mãos nos bolsos, faz cara de tranquilo e útil. Diz: 'Sou forte. Poderia carregar você nas costas o dia inteiro. Sabe, eu poderia até te ensinar a nadar.' Diz: 'Eu sei como. Com bóias para segurar seus pés lá em cima.' Ela faz sinal de que não. Ele infla as bochechas e sopra o ar. Diz: 'Vou pescar com meu pai, no domingo. Eu poderia trazer uma merluza grande assim para você!' Mostra com os braços um peixe como uma baleia. 'Gosta de merluza'? Ela faz sinal que não. 'De carpa?' Mesma coisa. 'De pata de siri? A gente traz um monte mas redes.' Ela gira a cadeira e empurra as rodas, é ela que se afasta. Ele grita pelas costas dela: 'Parisiense, vai! E eu que ia me deixar fisgar. Será que eu tenho muito cheiro de peixe para você, é?' Ela dá de ombros, ignora-o, faz as rodas girarem o mais rápido possível em direção à casa. Ouve Sylvain que eleva a voz em algum lugar do jardim: 'Então, seu engraçadinho, quer levar um pontapé no traseiro, é?'

(...)

Ele volta na tarde seguinte, na mesma hora. Ela espera. Dessa vez, ele se senta na mureta, do outro lado da grade. Por um tempo, não olha para ela. Diz: 'Tenho uma porção de amigos em Soorts. Não sei por que me incomodo por sua causa.' Ela pergunta: 'É verdade que você saberia me ensinar a nadar?' Ele faz que sim com a cabeça. Ela aproxima o carrinho, toca suas costas para que ele olhe para ela. Ele tem os olhos azuis, o cabelo preto todo cacheado. Apertam cerimoniosamente as mãos através das grades."

(continua)

Extraído de  "Um domingo para sempre", de Sébastien Japrisot.

Now listening: Quelqu'un m'a dit, by Carla Bruni.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Aconteceu comigo...




A história é verídica. Dessas que a gente comenta dentro do banheiro, quando está retocando a maquiagem, ou dentro do táxi, na volta pra casa, contabilizando as aventuras e desventuras de um Saturday Night.

Estava eu, numa boate do Recife, bebericando um Malibu num copo cheio de gelo, curtindo o som, e olhando o movimento, "confortavelmente" acomodada num dos banquinhos do bar. Encosta um cara:

" - Você tem cara de intelectual..."

Não entendi, sinceramente, se aquilo era realmente uma abordagem. Será que ele pensava que eu estava ali conjecturando sobre a teoria da relatividade, no meio de uma boate, apenas pelo fato de eu estar ostentando meu inseparável par de óculos, indispensável para o alto dos meus 5,5 graus de miopia? Eu sorri, e fiz uma breve avaliação do meu interlocutor: camiseta da Diesel, correntinha, um  Pit Boy puro-sangue, como diria a minha mãe. Poderia explicar que gosto mais dos escritores franceses, Sartre, Japrisot, Deforges, mas me contive, e respondi:

" - Intelectual? Ah, não, eu não. Só sei de um O porque tomo café no copo!"

Ele não se fez de rogado, e continuou:

" - Intelectual sim... gosta de Pablo Neruda, Saramago..."

Respira, Ki, respira. Sorrisinho sarcástico, again. " - O pai de quem, menino?" perguntei, desferindo o golpe de misericórdia. Sorrisinho amarelo, ele ficou por ali, "tapiando", e depois saiu.

Depois de contar às amigas, e receber delas toda a carga de indignação, afinal de contas "era a minha chance de descolar um carinha", e eu, "desperdicei". Putz, se desencalhar significa se agarrar com qualquer um, eu, definitivamente, quero permanecer solteira.

Now listening: The Last of The Famous International Playboys, by Morrissey.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Desejo

Esta é uma poesia de uma artista pernambucana chamada Regina Helena. Gostei tanto que coloquei no meu perfil, no orkut, e estou postando aqui.




"Que o meu amor seja o porto e o mar,
Que seja uma torrente de vida constante e perfeita,
Que seja o companheiro franco e sincero,
Que seja o cuidado que não oprime, a vontade profunda,
O princípio de largos limites, a extrema confiança,
Que seja a explicação do secreto,
E a verdade traduzida em olhares, sorrisos e gestos,
Que meu amor seja a complacência benigna da existência
Um jato de luz carregado de esperanças,
Voz de Deus flutuando nos ventos,
Que seja renovação, visão de vida nova, precisão e calma,
Que seja perspectiva, responsabilidade, execução,
Que seja a aceitação do inevitável, dominância, apaziguamento,
Que seja generosidade e festival de afeição que se agiganta,
Que seja o único brilho do desejo,
o cântico e a doçura do beijo,
E no total de um ardor que seja
intensa e simplesmente amor."

Now listening: Heroes and Saints, by Nikolaj Grandjean. Melancólica e intensa.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Voltando só pra comer o peru!

Este blog está entregue às baratas! Isto é um verdadeiro acinte aos meus pobres três leitores! Tsc, tsc, tsc...

Mas também, não faria sentido postar algo aqui apenas para fazer volume. Não é bem do meio feitio; tenho certeza de que vocês, meus três leitores, concordam comigo em gênero, número e grau.

"Boemia, aqui me tens de regresso"... Bem, o que dizer, então, depois de tanto tempo sem postar? Que depois de passar um mês de férias me dedicando à conclusão da monografia, fui coroada com um 9,0, um prêmio de consolação, e a graduação em Engenharia Ambiental? Louvável, vocês poderiam e sei que irão dizer. Mas todo o processo deixou um gostinho meio amargo, ainda travando na garganta, como quando a gente toma suco de caju. Falar sobre isso, porém, empobreceria o debate. Enfim.

E aí, é Natal. "E o que você fez?", pergunta aquela música da Simone, uma versão chaaaaaata daquela música do John Lennon!!! Quem disser que aquela música é legal, passe pelo menos uma manhã no meio da Rua da Imperatriz no Centro do Recife, ouvindo todas as lojas tocarem esta porra simultaneamente, e depois me conte.

Recife, aliás, como em qualquer outra capital do meu Brasil Brasileiro, fervilha nessa época. Não dá pra andar meio metro sem esbarrar num camelô vendendo toda a sorte de itens bugingangas, desde cadernos e agendas a CD's piratas, sem contar aquelas luzinhas do tipo "Pisca-Pisca" com música! Réplicas de Papai Noel dançam, tocam guitarra, sax... e sempre sai um brinquedo novo que faz a alegria dos pequenos (dos miúdos, como diria o meu amigo Fábio de Albuquerque, com seu sotaque lisboeta engraçadíssimo!). No ano passado eram umas bolinhas que acendiam. Este ano são uns troços que voam mais alto do que um Pirocóptero, e que também acendem. Acho que Bia vai adorar.




Recife, como em qualquer outra capital do meu Brasil Brasileiro, também tem muita desigualdade nessa época. Não sei se acontece com todo mundo, ou se a rotina banalizou as cenas, e cegou a maioria das pessoas, mas não consigo não me entristecer ao ver um andarilho, maltrapilho, sujo, caminhando pelas ruas movimentadas, catando lixo, ou dormindo numa calçada. Hoje, hoje mesmo. Estava voltando pra casa, após o trampo, e ao passar pela Ponte não-sei-qual (pra quem não sabe, Recife tem várias pontes. Pergunta o nome a qualquer recifense, eu duvido que ele saiba. Só vai dizer o nome da Ponte Duarte Coelho, e o pior! Nem sabe qual das quais é a Ponte Duarte Coelho!), aquela próxima ao Teatro de Santa Isabel, e lá tinha uma família instalada, sobre uns papelões: pai, mãe e dois filhos pequenos. Num dos cartões postais mais bonitos da minha cidade, a realidade sem retoques de um país tão desigual. "De um lado esse carnaval, de outro a fome total", já dizia o Gilberto Gil. Pergunto-me se alguém dentro do ônibus sentiu o mesmo incômodo, a mesma indignação que eu. Duvidando, again.

Há 2009 anos atrás, um pequeno nascia e dormia numa manjedoura. Se ele estivesse nascendo no dia 25 de dezembro de 2009, dormiria num papelão sobre a ponte, sobre a calçada, sob as marquises... "C'est la vie".

Feliz Natal a todos.

By Melonella.

Now listening: To drive the cold winter away, by Loreena Mckennitt.