quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Os lilases de Hossegor - Parte II

"Dizem que as amizades que começam mal são as mais infectantes. Bénédicte e Sylvain, e até Cochicho, que mal fez um ano, logo pegaram o vírus. Quase todos os dias, Bénédicte serve o lanche. Acha bem-educadas as crianças que têm apetite. Sylvain reconhece Manech, que vai terminar o primeiro grau dali a dois anos, tem o mérito de ajudar o pai na pesca, e a mãe, que é de saúde frágil, em todos os trabalhos.

(...)

O primeiro verão, o segundo. Parece a Mathilde que foi no segundo que ela se decidiu aprender a nadar. Manech fabricou bóias de cortiça para prender seus tornozelos e foi entrando no lago, com ela agarrada em seus ombros. Ela não lembra de ter sofrido. Tinha uma sensação de alegria e de gratidão para consigo mesma como raramente sentiu. Era capaz de flutuar, de avançar, deitada de barriga, só com os braços, e até mesmo, só com os braços, de virar de costas e continuar nadando.




(...)

E no oceano, o grande, o aterrorizante oceano de ondas de estrondo, explosões de neve e de pérolas, Mathilde também entra, agarrada ao pescoço de Manech, sufocando-o, estrangulando-o, gritando de pavor e de prazer a não mais poder, empurrada, afogada, machucada, mas sempre louca para voltar lá.

Na hora de subir as dunas, na volta do banho, com Mathilde às costas, Manech não aguenta, chateia-se consigo mesmo por precisar parar e colocá-la na areia para recuperar o fôlego. Foi ali, em uma parada forçada, durante o verão de 14, alguns dias antes da guerra, que Mathilde, querendo beijá-lo no rosto para confortá-lo, deixa deslizar os lábios e, com a ajuda do capeta, beija-o na boca. Toma gosto pela coisa tão depressa que se pergunta como pôde esperar tanto tempo e ele, ora essa, fica vermelho até as orelhas, mas ela sente que ele não detesta a novidade."


(continua)


Now listening: Smoke gets in your eyes, by The Platters.

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