Sexta-feira, 19h30min. Em Garanhuns, a trabalho, depois de um dia em que andei mais do que a má notícia (só pra dar uma dimensão do quanto a má notícia andou, foram apenas 275 km). Estava com uma preguiça danada de andar até a padaria onde eu geralmente janto quando estou por lá, e resolvi me abancar numa lanchonete especializada em sucos turbinados. Decidi pedir um suco de graviola e um sanduíche de queijo - venhamos e convenhamos, se eu tomasse qualquer um daqueles sucos cheios de xarope de guaraná, amendoim e toda a sorte de "pra-que-issos", meu sono iria parar no Amapá - e fiquei prestando (ou fingindo que prestava) atenção ao noticiário local.
Sentou-se um cara na mesa ao lado. Pediu um milk-shake de creme e uma coxinha de frango com catupiri. Quando o pedido dele finalmente chegou, ele pediu o "complemento": um copão de suco de acerola e dois(!) sanduíches de queijo. Pensei comigo: "É um animal". E não é que o animal falava?
- Terrível, né, moça?
- Hein?!?
Ele se referia ao terremoto no Haiti. Eu achei que poderia finalmente engatar uma conversa inteligente com alguém, mas, segundos depois vi que havia me enganado piamente. Falei sobre o que tinha lido nos jornais e revistas nos últimos dias, até ele jogar a rede. "Você é muito inteligente. É formada em que?". E a esta, seguiu-se uma série de perguntas. Parecia uma entrevista para uma vaga de emprego na Vale. Onde trabalho, se eu era a chefe (logo eu, hein?), onde é que eu estava hospedada, com quem eu moro, se eu namoro, se eu sou casada, se tenho filhos, planos para o futuro, como é que eu me vejo daqui a quinze anos, e etc. etc. etc. Nem dava tempo de responder a primeira pergunta, e ele já engatava umas vinte a mais. E aí veio a célebre, a cartada final. "Touché", em bom francês:
- Posso te dar meu telefone?
Felizmente, eu estava sem meu telefone celular por perto. Dei meu número antigo da Oi, cujo chip eu perdi, e ele escreveu os números dele num guardanapo de papel. Podre. Pra um publicitário que não tem nem um cartão de visitas, ele tá ruim, viu? Despedimo-nos com um polido aperto de mão. Ah, o guardanapo? Adivinha onde é que ele foi parar?
Now listening: Mirror, by Simply Red. "Look in the mirror, baby..."
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