Diferentemente dos últimos posts musicais, em que escolho letras que, de certa forma, refletem meu estado de espírito, ou merecem ser eternizadas para lembrar determinadas situações, hoje eu vou falar um pouco da minha relação com as melodias e com as bandas / cantores. Ao contrário do que possam pensar, meus digníssimos cinco seguidores, não, eu não toco nada! Acho que não consigo extrair um som decente e audível nem se bater dois gravetos numa lata de leite em pó, portanto, lamento desapontá-los, se esperavam que eu dissesse que toco harpa, cielo, balalaika, cítara ou algum outro instrumento musical exótico.
A minha relação com a música começou muito cedo. E já muito cedo eu demonstrava, sem modéstia alguma (e desde quando esta palavra fez parte do meu vocabulário?), um gosto mais apurado. Mamãe conta que, aos dois anos, eu me punha praticamente em transe ao ouvir Ebony and Ivory, com Paul McCartney e Stevie Wonder, e dançava ao som de Beat It, by Michael Jackson. Depois disto, confesso que passei por uma lavagem cerebral, quando seres menos evoluídos me levaram a bordo de uma nave espacial e eu passei a ouvir Xuxa.
Os anos se passaram, e comecei a refinar um pouco (muito) o paladar musical. Fiquei mais exigente. As letras passaram a ter sentido e a significar muito para mim, além da melodia. Eu passei a buscar, e até hoje isso é um parâmetro na hora de decidir virar fã ou não, uma identificação com algo, um detalhe peculiar, às vezes imperceptível a um ouvinte eventual, ou menos preocupado com estas questões. Assim, bandas como Depeche Mode, The Cranberries, Cocteau Twins, The Smiths, Tears For Fears, Rush, artistas como Loreena Mckennitt, Mike Oldfield, Dido, Suzanne Vega, passaram a povoar meus CD players. Aprendi história, geografia, inglês e filosofia, ouvindo estes monstros sagrados. Exemplos? Em "Everything Counts", do excelente Construction Time Again, Martin Gore, meu marido imaginário, versa sobre o capitalismo selvagem e a gana da sociedade e dos poderosos em consumir e acumular para si cada vez mais riquezas, sob a pena da opressão dos mais fracos (ainda tão atual, não?). Ainda do Mode, no mesmo álbum, "Two Minute Warning" fala da iminência de uma guerra nuclear no auge da Guerra Fria, conflito político-ideológico encabeçado por Estados Unidos e União Soviética (qualquer semelhança com o perigo do enriquecimento de Urânio desenfreado no Irã é mera coincidência. Tudo para fins pacíficos. Sei...). Em Yeat's Grave, o Cranberries conta a história do maior poeta irlandês, William Butler Yeats, e cita estes versos no meio da música:
"Why should I blame her,
that she filled my days with misery or that she would of late
Have taught to ignorant men violent ways or
hurled the little streets upon the great
Had they but courage equal to desire?"
Poderia passar horas a fio, citando exemplos, letras, detalhando a magia dos acordes, a perfeição das notas, mas corro o risco de desmerecê-los com minha pieguice.
Todos eles têm um quê de depressão. Mas a vida, a própria vida, já não carrega uma carga depressiva no seu próprio desenrolar?
Now Listening: Girl Afraid, by The Smiths. "She said he never really looks at me..." At me too, girl. At me too.
P.S.: Post escrito numa madrugada insone, em Caruaru.
By Melonella.
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