sábado, 7 de agosto de 2010

"... somos feitos de silêncio e sons..."

Os antigos tinham uns costumes engraçados! Principalmente relacionados à gestação e ao nascimento de uma criança. Por exemplo: um costume árabe prega proteger os bebês contra maus-olhados prendendo contas azuis em suas roupas. Outro costume muito seguido é calçar sapatinhos vermelhos nas meninas após sete dias de seu nascimento – minha afilhada, Beatriz, foi uma das inúmeras e incontáveis crianças que usaram um daqueles charmosos sapatinhos de lã vermelha!

Eu mesma, quando bebê, fui coadjuvante de um destes costumes. Minha mãe juntou água da primeira chuva de janeiro, coou e me deu para beber, para que eu falasse logo. Daí vem o ditado popular “tomou água de janeiro”, para definir aquelas pessoas que falam pelos cotovelos. E eu realmente, falei logo. Falei e continuo falando, com a minha tagarelice tão peculiar, que, reconheço, às vezes irrita os meus interlocutores, pois transformo as nossas conversas num monólogo. Encenado por mim, claro.

Tagarelar. Nasci sob o signo de Gêmeos, o relações-públicas do Zodíaco. Regido por Mercúrio – na Mitologia Romana, Hermes, o mensageiro dos deuses, o responsável pela educação dos Gêmeos Castor e Pólux, filhos de Leda, Zeus e Tíndaro. Daí o meu gosto por falar, estar em contato constante com as pessoas, com o mundo. Contar as minhas piadas, dividir o pouco conhecimento que venho acumulando em quase oito anos de profissão, ou falar sobre o show do Cranberries aqui em Recife no próximo dia 22 de outubro! Quando eu estou falando, é uma maneira de perpetuar a alegria, os momentos felizes, desfrutados ao lado dos meus amigos, da minha família, de pessoas queridas.



Em contrapartida, quando me calo, é o reverso da moeda. Se estou calada, estou triste, magoada. É uma forma de fazer com que o sentimento vá minguando dentro de mim, até desaparecer. É doloroso, e a dor se torna ainda mais pungente quando no processo estão envolvidas pessoas que gozam do meu apreço. É aí que mergulho no silêncio, como se mergulhasse os meus ferimentos numa piscina de mercúrio cromo, ou de Merthiolate® (sem arder!). Tem um processo de cura, de renascimento, aí. Como a Fênix, o pássaro mitológico que renasce das próprias cinzas. E eu não costumo negligenciar esses períodos. São extremamente ricos, cheios de aprendizado. Aprendo mais sobre mim, sobre as pessoas, sobre suas nuances e como se relacionam. E percebo, exatamente, onde estou inserida em todo esse contexto, e que importância eu tenho (ou não), na vida destas pessoas. Às vezes, dói ainda mais. Na maioria das vezes, a dor se transforma em júbilo, após a tempestade.

Jorge Vercilo canta em Devaneios, que o ”silêncio fala mais que a traição”. Prefiro concordar com Confúcio, filósofo chinês, que diz que “o silêncio é um amigo que jamais atraiçoa”.



“Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora...”



Now listening: Pra Rua Me Levar, by Ana Carolina. Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir...

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