segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um Post Musical Diferente




Diferentemente dos últimos posts musicais, em que escolho letras que, de certa forma, refletem meu estado de espírito, ou merecem ser eternizadas para lembrar determinadas situações, hoje eu vou falar um pouco da minha relação com as melodias e com as bandas / cantores. Ao contrário do que possam pensar, meus digníssimos cinco seguidores, não, eu não toco nada! Acho que não consigo extrair um som decente e audível nem se bater dois gravetos numa lata de leite em pó, portanto, lamento desapontá-los, se esperavam que eu dissesse que toco harpa, cielo, balalaika, cítara ou algum outro instrumento musical exótico.

A minha relação com a música começou muito cedo. E já muito cedo eu demonstrava, sem modéstia alguma (e desde quando esta palavra fez parte do meu vocabulário?), um gosto mais apurado. Mamãe conta que, aos dois anos, eu me punha praticamente em transe ao ouvir Ebony and Ivory, com Paul McCartney e Stevie Wonder, e dançava ao som de Beat It, by Michael Jackson. Depois disto, confesso que passei por uma lavagem cerebral, quando seres menos evoluídos me levaram a bordo de uma nave espacial e eu passei a ouvir Xuxa.

Os anos se passaram, e comecei a refinar um pouco (muito) o paladar musical. Fiquei mais exigente. As letras passaram a ter sentido e a significar muito para mim, além da melodia. Eu passei a buscar, e até hoje isso é um parâmetro na hora de decidir virar fã ou não, uma identificação com algo, um detalhe peculiar, às vezes imperceptível a um ouvinte eventual, ou menos preocupado com estas questões. Assim, bandas como Depeche Mode, The Cranberries, Cocteau Twins, The Smiths, Tears For Fears, Rush, artistas como Loreena Mckennitt, Mike Oldfield, Dido, Suzanne Vega, passaram a povoar meus CD players. Aprendi história, geografia, inglês e filosofia, ouvindo estes monstros sagrados.  Exemplos? Em "Everything Counts", do excelente Construction Time Again, Martin Gore, meu marido imaginário, versa sobre o capitalismo selvagem e a gana da sociedade e dos poderosos em consumir e acumular para si cada vez mais riquezas, sob a pena da opressão dos mais fracos (ainda tão atual, não?). Ainda do Mode, no mesmo álbum, "Two Minute Warning" fala da iminência de uma guerra nuclear no auge da Guerra Fria, conflito político-ideológico encabeçado por Estados Unidos e União Soviética (qualquer semelhança com o perigo do enriquecimento de Urânio desenfreado no Irã é mera coincidência. Tudo para fins pacíficos. Sei...). Em Yeat's Grave, o Cranberries conta a história do maior poeta irlandês, William Butler Yeats, e cita estes versos no meio da música:

"Why should I blame her,
that she filled my days with misery or that she would of late
Have taught to ignorant men violent ways or
hurled the little streets upon the great
Had they but courage equal to desire?"

Poderia passar horas a fio, citando exemplos, letras, detalhando a magia dos acordes, a perfeição das notas, mas corro o risco de desmerecê-los com minha pieguice.

Todos eles têm um quê de depressão. Mas a vida, a própria vida, já não carrega uma carga depressiva no seu próprio desenrolar?

Now Listening: Girl Afraid, by The Smiths. "She said he never really looks at me..." At me too, girl. At me too.
 
P.S.: Post escrito numa madrugada insone, em Caruaru.
 
By Melonella.

domingo, 8 de agosto de 2010

Um P.S.

Meus três seguidores devem estar estranhando a minha produção de postagens nas últimas 24 horas. E não, definitivamente, não é o que vocês estão pensando. Um dos meus alter-egos, Clarice Lispector, usava seus dotes literários como forma de conquistar o seu amado, Lúcio Cardoso, que era... gay!

Podem acreditar, meus queridos. Qualquer semelhança, desta vez, é sim, mera coincidência.

Só as mães são felizes?

Se fosse há alguns anos atrás, eu teria motivos de sobra para cantar uma canção diferente para você, num dia como hoje, ou interpretar o quinto mandamento de Deus, como sendo apenas “honra à tua mãe”. Imaginei tantos desfechos mirabolantes à nossa história, e em nenhum deles você estava presente. Ou estava em posições humilhantes, degradantes, em que eu riria por último, mas não sei se necessariamente melhor, pois, apesar de ansiar por ela, não sentia, nem nunca senti a doçura na vingança arquitetada nos momentos de mais profunda dor e revolta. “Oh father, I have sin...”

Agora tudo isso parece tão distante... de mim, de você, de nós dois... não sei se por força das circunstâncias, mas, hoje, é difícil imaginar as ofensas dirigidas a você, mesmo em segredo.

Apelando a um dos clichês mais utilizados desde que o mundo é mundo, este dá tantas voltas... e numa delas, nós dois nos reencontramos. Confesso que, a princípio, houve resistência da minha parte, mas hoje me surpreendo sentindo saudades suas, daqueles nossos reencontros em tardes de domingo, assistindo TV, e conversando sobre as banalidades da vida.

“Oh! Metade de mim, metade afastada de mim...” Hoje eu compreendo... e este carma nós dois não carregaremos mais.

Se eu nunca vier a dizer, se eu nunca te disser, saiba que o amor sempre residiu em mim. Com a mesma certeza da sua reciprocidade.

Feliz dia dos pais.

sábado, 7 de agosto de 2010

"... somos feitos de silêncio e sons..."

Os antigos tinham uns costumes engraçados! Principalmente relacionados à gestação e ao nascimento de uma criança. Por exemplo: um costume árabe prega proteger os bebês contra maus-olhados prendendo contas azuis em suas roupas. Outro costume muito seguido é calçar sapatinhos vermelhos nas meninas após sete dias de seu nascimento – minha afilhada, Beatriz, foi uma das inúmeras e incontáveis crianças que usaram um daqueles charmosos sapatinhos de lã vermelha!

Eu mesma, quando bebê, fui coadjuvante de um destes costumes. Minha mãe juntou água da primeira chuva de janeiro, coou e me deu para beber, para que eu falasse logo. Daí vem o ditado popular “tomou água de janeiro”, para definir aquelas pessoas que falam pelos cotovelos. E eu realmente, falei logo. Falei e continuo falando, com a minha tagarelice tão peculiar, que, reconheço, às vezes irrita os meus interlocutores, pois transformo as nossas conversas num monólogo. Encenado por mim, claro.

Tagarelar. Nasci sob o signo de Gêmeos, o relações-públicas do Zodíaco. Regido por Mercúrio – na Mitologia Romana, Hermes, o mensageiro dos deuses, o responsável pela educação dos Gêmeos Castor e Pólux, filhos de Leda, Zeus e Tíndaro. Daí o meu gosto por falar, estar em contato constante com as pessoas, com o mundo. Contar as minhas piadas, dividir o pouco conhecimento que venho acumulando em quase oito anos de profissão, ou falar sobre o show do Cranberries aqui em Recife no próximo dia 22 de outubro! Quando eu estou falando, é uma maneira de perpetuar a alegria, os momentos felizes, desfrutados ao lado dos meus amigos, da minha família, de pessoas queridas.



Em contrapartida, quando me calo, é o reverso da moeda. Se estou calada, estou triste, magoada. É uma forma de fazer com que o sentimento vá minguando dentro de mim, até desaparecer. É doloroso, e a dor se torna ainda mais pungente quando no processo estão envolvidas pessoas que gozam do meu apreço. É aí que mergulho no silêncio, como se mergulhasse os meus ferimentos numa piscina de mercúrio cromo, ou de Merthiolate® (sem arder!). Tem um processo de cura, de renascimento, aí. Como a Fênix, o pássaro mitológico que renasce das próprias cinzas. E eu não costumo negligenciar esses períodos. São extremamente ricos, cheios de aprendizado. Aprendo mais sobre mim, sobre as pessoas, sobre suas nuances e como se relacionam. E percebo, exatamente, onde estou inserida em todo esse contexto, e que importância eu tenho (ou não), na vida destas pessoas. Às vezes, dói ainda mais. Na maioria das vezes, a dor se transforma em júbilo, após a tempestade.

Jorge Vercilo canta em Devaneios, que o ”silêncio fala mais que a traição”. Prefiro concordar com Confúcio, filósofo chinês, que diz que “o silêncio é um amigo que jamais atraiçoa”.



“Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora...”



Now listening: Pra Rua Me Levar, by Ana Carolina. Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir...