A primeira cena se passa num restaurante em um clube, onde a personagem de Sandra Bullock, Leigh Ann, conversa com amigas:
"Amiga 1: Problemas com a estátua?
Amiga 2: A melhor parte de Paris foi a comida. Eles usam todo tipo de molho. Eu tive que malhar no dia em que cheguei!
Amiga 2: A melhor parte de Paris foi a comida. Eles usam todo tipo de molho. Eu tive que malhar no dia em que cheguei!
Leigh Ann: Vocês costumam ir ao outro lado da cidade?
Amiga 1: De que lado você está falando?
Leigh Ann: Rua Alabama, Vila Dor.
Amiga 1: Vila Dor? Parece uma ameaça.
Leigh Ann: É, por aí.
Amiga 1: Eu vou ter dor se for lá.
Amiga 3: Isso vai doer na sua reputação.
Amiga 2: Ora, eu sou de lá, mas trabalhei duro, vejam só onde estou agora. (ergue a taça, simulando um brinde)
Leigh Ann: Comendo uma salada de US$18,00?
Amiga 2: Que está insossa para ser sincera!
Amiga 3: Por que o interesse nos conjuntos populares, é outra de suas beneficências (simula aspas com a mão direita)?
Amiga 2: Conjuntos em conjunto? Já pegou! A grana vai entrar sozinha! Tudo bem, conte comigo Leigh Ann! Peguem o talão de cheques!
(As amigas caem na risada. Leigh Ann suspira, desanimada).
***
A segunda cena se passa no mesmo restaurante. As amigas comentam o cartão de natal da família Tuhoys, em que Michael também aparece:
Amiga 3: Você ficou minúscula perto dele, tipo Jéssica Lange e King Kong! Que coisa mais doida.
Amiga 1: Michael tem desconto familiar no TacoBell? Porque se tiver, Sean vai ficar no prejuízo.
Leigh Ann: Ele é um bom menino.
Amiga 3: Então torne tudo oficial e o adote!(Risos)
Leigh Ann: Ele vai fazer 18 anos em poucos meses, não faz sentido adotá-lo.
(Longo silêncio e perplexidade entre as amigas)
Amiga 1: Leigh Ann, isso é algum tipo de culpa por ser branca?
Amiga 3: O que seu pai acha?
Leigh Ann: Antes ou depois de ele se revirar no túmulo? Meu pai morreu há cinco anos, Elaine! E pra piorar, você foi ao enterro, não tá lembrando não, com um vestido Channel e um chapéu preto horrível (A amiga arregala os olhos). É o seguinte: eu não preciso que vocês aprovem minhas escolhas, ta? Mas eu vou pedir que as respeitem. Vocês não fazem idéia do que o garoto passou, e se isso vai virar algum tipo de crítica, eu posso achar uma salada que não valha o preço mais perto da minha casa.
Amiga 1: Leigh Ann não tivemos a intenção...
Amiga 3: Não, não tivemos mesmo...
Amiga 2: Eu acho incrível o que você está fazendo. Abrir a porta da sua casa pra ele... Amor, você mudou a vida do rapaz!
Leigh Ann: Não... ele mudou a minha vida.
Amiga 3: Eu sei que é ótimo pra você, mas, e a Collins?
Leigh Ann: O que tem a Collins?
Amiga 3: Você não se preocupa, nem mesmo um pouco? Ele é um rapaz grande, e negro, dormindo sob o mesmo teto...
Leigh Ann (balançando a cabeça desaprovando o comentário): Que vergonha!... – levanta-se apanhando a conta – Eu pago."
* * *
Estou há horas buscando uma maneira de introduzir este post. Estava em busca, na verdade, de algo que não fizesse vocês, meus nobres seis leitores, desistirem dele e do blog logo no início. Daí me lembrei de uma música do Tears For Fears, chamada Badman's Song, do álbum mais intimista da dupla, o Sowing The Seads of Love. Esta música foi escrita por Roland Orzabal, logo após ouvir, sem querer, uma conversa "afiada" sobre ele, que rolava no quarto ao lado do seu, entre os músicos que os acompanhavam numa turnê da banda. Há um trecho em particular, que diz: "Food for the Saints that are quick to judge me". E é sobre ele que eu quero falar, especificamente, pra chegar onde eu quero.
As pessoas, e nisto também me incluo, são rápidas em esquecer de onde vem. Logo, não sabem para onde vão. Acho isto a premissa necessária para se saber onde se quer chegar, e principalmente! Saber de onde se vem ajuda a conservar a própria essência quando a vida nos dá benesses em excesso, seja por sorte ou merecimento mesmo. E mais ainda! Ajuda a conservar a própria essência quando esta mesma vida, num golpe de vista, tira de nós as benesses, por má sorte, ou por merecimento mesmo.
As pessoas, e nisto também me incluo, são rápidas em esquecer de onde vem. Logo, não sabem para onde vão. Acho isto a premissa necessária para se saber onde se quer chegar, e principalmente! Saber de onde se vem ajuda a conservar a própria essência quando a vida nos dá benesses em excesso, seja por sorte ou merecimento mesmo. E mais ainda! Ajuda a conservar a própria essência quando esta mesma vida, num golpe de vista, tira de nós as benesses, por má sorte, ou por merecimento mesmo.
"Food for the Saints that are quick to judge me..."
Talvez seja pelo meu esforço de conservar a minha essência; talvez por lembrar constantemente de onde eu vim, e saber exatamente para onde eu quero ir, imprimindo movimento à minha vida, é que eu incomode tanto! Ou que as pessoas ao meu redor se envergonhem da minha espontaneidade - quando eu mesma não estou nem aí pra isso, aliás!
Este final de semana conheci uma figuraça, que me serviu de inspiração para este post. É provável que neste momento, em que eu estou aqui, em frente ao notebook no conforto do meu quarto depois de comer bem no jantar, ele esteja juntando suas moedinhas num chapéu velho, de veludo preto, sentado numa velha cadeira de rodas que lhe ajuda a se locomover, já que não tem ambas as pernas, em frente ao Guaiamum Gigante, restaurante badalado de Recife. A situação em que nos conhecemos me lembrou duas cenas em particular do filme "Um Sonho Possível", que rendeu a Sandra Bullock o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz de 2010. No filme, Leigh Anne, o personagem dela, adota Michael Oher, um jovem negro morador de rua, vindo de um lar destruído. Com a ajuda dela, Oher aprende a superar diversos desafios à sua frente, e, em contrapartida, muda a vida de todos a sua volta.
Minha fonte de inspiração deste final de semana, se revelou, em poucos minutos de conversa, uma pessoa culta, de papo agradável, ao contrário do que muitos que o vissem podiam pensar - um bêbado desagradável e inconveniente. Se disse parecido com o Dustin Hoffmann - e observando direitinho, o ator americano se parece mesmo com ele. Sabe-se lá em que circunstâncias teve suas pernas amputadas e foi parar ali, a mendigar a bondade das pessoas.
Ah, meu amigo Dustin! Considero você um herói. Pedir não é mesmo algo fácil de se fazer. Já pedi muito, e chorei quando "não" foi a palavra que ouvi do lado de lá. Você ainda conserva a capacidade de sorrir, apesar de tudo.
Pode crer, meu amigo, que você fez muito mais por mim do que as moedinhas que saíram da minha carteira e foram parar no seu chapéu velho fizeram por você.
Now listening: The Badman's Song, by Tears For Fears. "Hope for a Badman, This is the Badman's Song"...
- By Melonella -
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