sexta-feira, 25 de junho de 2010

"... E hoje em dia, como é que se diz 'eu te amo'?"

Ora essa! Muito simples! O que teria de tão complicado em dizer apenas três palavrinhas, dispostas assim, em forma de frase, com olhar de mormaço, como diria o Machado de Assis em "Dom Casmurro", ao descrever a Capitu?

Seria tão simples assim, mesmo?

Não seria se nesta frase não houvesse tanto sentimento implícito. E a mesmo tempo, carregasse tanta banalidade! Não pela simplicidade das palavras (dois pronomes - um pessoal e outro oblíquo - e um verbo conjugado no presente do indicativo, indicando que a ação acontece naquele momento, como diriam as professoras de português em cursinhos pré-vestibulares), mas sim, pela banalidade inferida pelos desavisados, pelos desleixados, pelos, pelos... ah, vocês entenderam!

Já dizia Shirley Valentine, a personagem principal do filme homônimo, de 1989: "Eu te amo. Seria bom se engarrafassem e vendessem!".

Eu te amo. Frase tão em desuso. Ou talvez o uso em demasia, indiscriminadamente, tenha feito com que a frase venha aos poucos, desaparecendo das prateleiras da vida.

Voltando à pergunta do título, como é que se diz 'eu te amo'?

Não sei os outros. Mas digo 'eu te amo', em pequenos gestos, pequenas gentilezas. Quando divido o meu lanche. Quando trabalho, e dou um sorriso de satisfação ao saber que foi bem feito. Quando saio de casa e vejo um dia tão bonito, de céu azul quase sem nuvens. Quando me despeço da minha mãe no portão, mesmo se eu for até ali na esquina comprar pão. Digo muito que amo, pelo MSN e pelo orkut ao meu amigo Fábio, que está tão longe, além-mar. Às minhas amigas Dayana (minha eterna psicóloga), Sandrinha. Às músicas que adoro e que fazem parte da trilha sonora da minha vida. Ao Martin Gore, meu marido imaginário. Ao sorvete de nata-goiaba, e ao biscoito Goiabinha da Bauducco. Porque a vida é tão breve, tão efêmera! Não sei até quando terei as pessoas ou coisas que amo ao meu lado, então faço questão de declarar meu amor por eles/elas o tempo inteiro. E mesmo com toda a pieguice, e com toda a banalidade que eu mesma possa inferir a tudo isso, vou continuar declamando. Até que inventem frase melhor para isso.

Now listening: Subdivisions, by Rush. Não tem nada a ver com o texto acima, mas costumo ouvir os vocais anasalados do Geddy Lee quando estou deprimida. Enfim.

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